Bala de Coco
O coco por si só é perfeito: sua água fresca, nutritiva, a polpa suculenta e docinha oferecem saúde e prazer. Doces que têm coco, então, são divinos: cocada, quindim, pudim, beijinho. De todos, a bala de coco é a minha epifania. Macia, branca, traz a nostalgia de lembranças felizes, um sabor que dissolve e permanece na boca e na memória.
O clássico pote das balas, com balas de coco de Danielle Andrade (foto Romero Cruz)
Doce popular e, ao mesmo tempo, uma relíquia da presença portuguesa na cultura brasileira, a bala de coco tem origem no alfenim, que, por sua vez, era parte das tradições culinárias árabes, levadas a Portugal pelas navegações. “Alfenim” deriva de "al-fenid": em árabe significa "o branco”. Feito à base de açúcar, água e, em algumas versões, com clara de ovo, o alfenim era cozido até atingir o ponto de fio, e aí moldado em diversas formas — animais, figuras humanas e objetos. Podiam ser, também, estampas de anjos, pombas, corações, imagens para marcar celebrações religiosas. No Brasil, a receita ganhou mais um item, o coco, nascendo então esse delicioso símbolo da doçaria do país.
As balas de coco que a chef confeiteira Danielle Andrade produz em seu ateliê vêm dessa antiga linhagem. Ela está adicionando novos capítulos para essa história de mais de 500 anos: já experimentou balas de coco recheadas? E balas gigantes, para cortar e dividir? A doceira faz uma verdadeira festa com o coco e as balas no seu portifólio de delícias que produz.
Balas de coco recheadas e estampadas com figuras: capricho da doceira Danielle Andrade (foto Paula Belo)
Os recheios das balas podem ser de frutas e doces: abacaxi, limão siciliano, frutas vermelhas, abóbora, brigadeiro, coco cremoso, doce de leite, nozes, castanha do Pará, baba de moça, pistache, entre outros. Romeu & Julieta traz o terceiro elemento para a relação e dá tudo certo: fica delicioso! Danielle criou a bala de coco em versão big, como um rocambole, servida em uma tábua de madeira, perfeita para compartilhar.
A doceira é, como eu, uma apaixonada pelo coco. Desde cedo, na cozinha da mãe, participava da produção de doces e sobremesas para as refeições da família. Seu caminho natural foi cursar Gastronomia, especializar-se em confeitaria e, depois, cursar a Pós-Graduação em Eventos. Em seu ateliê, as balas de coco são o carro-chefe. Danielle produz uma variedade de bolos, tortas e docinhos para festas e atende pedidos nas plataformas de delivery. Só para citar os doces que ela faz com coco, o pudim de tapioca com baba de moça é uma perdição e o bolo de coco gelado, de capotar!
Olha que, do coco, a cocada rouba meu coração. Mas quando se trata da bala de coco da Danielle, fico dividida. É que a bala de coco tem todo essa aura de memórias que emerge à nossa mente quando ela derrete na boca. É um encantamento. O significado fica ainda mais forte ao desembrulhar a doçura branca do papel de seda com franjinhas. Aí é covardia!
O capricho das balas de coco de Danielle Andrade (foto Romero Cruz)
Machado de Assis, se conhecesse as balas de coco da Danielle, teria feito Bentinho comprar algumas para Capitu, em vez da cocada, doce querido dos dois apaixonados que a moça recusou, marcando o conflito que viviam no momento, em Dom Casmurro. Será que a história seria diferente se ele oferecesse a ela as balas de coco?